terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A MÚSICA BRASILEIRA DE HOJE NUMA VISÃO "JOBINIANA"

Hoje Tom Jobim faria 84 anos, mas para a música popular brasileira, ele é imortal, considerado um divisor de águas em nossa cultura e tido pela crítica internacional como o grande representante da musicalidade brasileira.
Tive o grande prazer de rever esta semana uma entrevista de Tom Jobim exibida no programa Roda Viva da TV cultura em 1993. Grande maestro, compositor que lamentavelmente  nos deixou no dia oito de dezembro de 1994; grande perda para a música brasileira, grande e irreparável perda para a cultura brasileira. E numa dissertação simples sobre a sua leitura da música popular brasileira ele comenta que hoje a música perdeu muito de suas possibilidades. Não existe mais uma construção harmônica, os textos e linhas melódicas são simplórias, superficiais. Ele mesmo ressalta que não tem mais tempo e ambiente para compor como antes; isto quer dizer que para compor é preciso tempo e disponibilidade, além de talento, os afazeres do dia a dia, lhe roubam o tempo de criação e maturação das idéias. "hoje o artista cria alguma coisa interessante, e não pode continuar evoluindo, tem que levar aquilo o resto de sua carreira, a exemplo disto temos a Carmem Miranda, que colocou um abacaxi na cabeça e teve que carregá-lo a vida toda. A música brasileira perde gradativamente sua personalidade, diz Tom Jobim comentando  Mário de Andrade, poeta, escritor, e um dos criadores do modernismo no Brasil: se você for um músico medíocre, faça música brasileira, se for um músico mais ou menos, faça música brasileira, se for um gênio da música, faça música brasileira. Tom se dizia totalmente ligado à palavra, por isso sua letras eram tão marcantes e cheias de personalidade. Hoje na música não existe uma preocupação com o texto, apenas com o som, algo de facílima compreesão. Harmonia, nos termos que se conhece, não existe mais, caiu-se em um processo simplório de composição. Hoje, na busca de novas idéias que agradem o público , os compositores e produtores desenvolvem uma falsa intimidade com a verdadeira música, a música que tem estrutura e forma, e isso os leva ao caminho do equívoco. Agradar a um público que já não desenvolve mais com tanta frequência o hábito da leitura, da poseia, da literatura, dos autores  dos poetas brasileiros, é inevitavelmente caminhar para o consumismo barato, e aí os artistas são forçados a levar "o abacaxi na cabeça por toda a sua carreira".
Tom Jobim não está mais presente como artista em nossa cultura, mas a sua música é referência de bom gosto, e quando se toca no nome Tom Jobim nas rodas de música, aí se percebe  o respeito como que se tocasse em um assunto inatingível, tamanha é a superficialidade atual de nossa cultura musical.
Ser simples não é ser simplório, e o difícil é fazer o complexo soar simples e belo. Isto Tom Jobim conseguiu, e nos deixa o grande exemplo, a grande lição, a direção. Quem tem ouvidos ouça, quem tem bom gosto, ouça, quem é brasileiro, orgulhe-se da música jobiniana. Ouvir Tom Jobim não é apenas escutar música mas se aculturar, se educar musicalmente, absorver conteúdos de letra, melodia e harmonia. 
A música é a ferramenta mais didática que uma sociedade pode ter, e o que estamos fazendo desta ferramenta?; o que estamos ensinando?; que valores culturais, poéticos, forma e estrutura estamos passando? Só se ensina o que se conhece, e o que se conhece hoje em termos de música é válido ensinar?

Anuacy Fontes
                                                                             Veja a entrevista de
Tom Jobim no Youtube:

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